quinta-feira, 27 de março de 2014

Cantoria no sertão do Guacuí Um vale e muitas histórias. Pescadores e vaqueiros, garimpeiros de ouro e quilombolas encafuados lutando pela liberdade. Aredés, caetés, emboabas, tropeiros e canoas singrando as águas entre um arraial e outro, levando e trazendo gente, coisas, histórias. Minas. Corre o rio e adentra outro estado. O Sertão, o Gerais, o Sem-fim, que é ao mesmo tempo o tudo e o nada, o dentro da gente, o deserto. Os dois mundos, as Minas do ouro, do topázio imperial, da pedra sabão, das igrejas suntuosas e sobrados imponentes em meio a montanhas e o Gerais, de boiadas e veredas onde reina o buriti, de homens rudes e fortes e mulheres belas e tristes, de meninos crescendo feito bezerros e homens morrendo feito bois enfim se encontram, seguindo o velho curso das águas do Guacuí, o das Velhas que volteia a entrada desse sertão e se ajunta ao grande e velho Chico, pai das águas que banham os dois lados desse norte grande. Veredas. E Minas, de água e de homens, de palavras e sons. O universo mítico de Guimarães Rosa, o das grandes histórias de gente simples, recebe em seu seio a poesia quase barroca de Jorge Dikamba, filho de dois vales. Nascido nas montanhas que definem o sinuoso caminho do Velhas, crescido em meio aos sabores, sons e costumes do Jequitinhonha, tetraneto de uma índia Maxakali da região de Teófilo Otoni, neto do jagunço Venâncio de Minas Novas, no Jequitinhonha e, não por acaso, escritor, contador de histórias e causos, Dikamba percorre esses vales à cata de tesouros imaginários, que sua poesia torna quase reais, palpáveis e visíveis em meio aos sons de sua musicalidade abrangente. Rosa foi mestre, de altura incomparável no panteão dos pais fundadores de nossa identidade cultural. Dikamba é discípulo, que caminha com passos curtos e sem pressa na trilha deixada pelos que palmilharam os sertões de nossa história. Pesquisador de culturas, criança grande, cresceu interagindo com a biodiversidade e participando de folguedos e brincadeiras, ouvindo sons e histórias de tempos idos. Vem se dedicando há décadas ao estudo das expressões culturais populares brasileiras, desde a música feita nos séculos XVII e XVIII, passando pelas bandas tradicionais, pelo cancioneiro regional e pelos tambores afro-mineiros. De formação humanista, funde no cadinho de sua musicalidade os tambores bantos, as violas dos folguedos e as conçonetas de salão, combinados com uma poesia concisa e plena de significados. Sua música é artesanal, extemporânea e rica em possibilidades melódicas e rítmicas, cuja temática remete às peculiaridades regionais mineiras, consubstanciadas na mineiridade que flui entre rios e ladeiras, festas e rezas. Esse encontro de idéias e memórias, de sons e palavras terá lugar dia 29 de março na morada centenária cujas paredes são testemunhas da história do incomensurável gigante do sertão, hoje Museu Casa Guimarães Rosa, na aprazível Cordisburgo, “cidade do coração”. Mais que um concerto, é um acontecimento litero-musical único. Vale a pena conferir. Serviço Jorge Dikamba em “Cantorias de Andejar” Museu Casa Guimarães Rosa Rua Padre João, 744 Centro Cordisburgo MG Dia 29 de março de 2014 às 20h00 Entrada franca Informações: (31) 3715-1425 http://aamcgr.blogspot.com.br jorgedikamba.blogspot.com

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