domingo, 2 de fevereiro de 2014

Caderno de Cultura do Jornal Estado de Minas divulga ações de incentivo a leitura



Parte superior do formulário




Parada literária Projeto criado por coletivos de intervenção urbana empresta livros e incentiva leitores a fazerem doações. Outras iniciativas valorizam a leitura em BH, Contagem e Sabará


Mariana Peixoto
Publicação: 31/01/2014 04:00

 

Diego Natan, estudante, no Ponto do Livro, Praça da Liberdade (Foto: Euler Junior)

Um bom número de pessoas nem chega a olhar duas vezes. Já os que param fazem um primeiro contato meio desconfiado, até decidir qual levar. Uma vez com o livro em mãos, esperam seu ônibus chegar e embarcam com o volume debaixo do braço. Há 10 dias, os usuários de transporte público que frequentam o ponto da Praça da Liberdade em frente ao Centro Cultural Banco do Brasil têm como companhia obras de autores clássicos como Camus e Pirandello, brasileiros como Jorge Amado e outros de leitura mais ligeira, como Colleen McCullough, conhecida pelo açucarado romance Pássaros feridos. Ao menos 30 livros estão disponíveis, de graça e sem qualquer burocracia, para quem quiser. É pegar e levar. E, uma vez lido, o livro deve ser devolvido no mesmo local.

Essa é a ideia do Ponto do livro, projeto criado pelos coletivos de intervenção urbana We Love, DesestressaBH e Feira Grátis da Gratidão. Iniciativas do gênero já existem em outras capitais brasileiras: a versão mineira nasceu a partir da paulista Parada do livro, que, por seu lado, espelhou-se na gaúcha Estante pública. “E a nossa ideia é que as pessoas que pegaram livros não só os devolvam, mas façam novas doações”, afirma Pedro Ivo, do We Love, que diariamente vem repondo o acervo disponível ao público. O ponto escolhido na Praça da Liberdade recebe grande número de pessoas, pois passam por ali 20 linhas de ônibus. Já em 9 de fevereiro será inaugurada outra estrutura, em ponto do outro lado da praça, em frente ao Museu das Minas e do Metal. Num terceiro momento, haverá mais uma na Avenida Brasil e outra em frente ao colégio e faculdade Izabela Hendrix.

Estudante do ensino médio, Diego Natan já havia passado outras três vezes em frente ao Ponto do livro até decidir levar um livro juvenil. “As opções que estão aqui me agradaram. Não sou leitor voraz, levo pelo menos uma semana para terminar um livro”, disse ele, enquanto esperava a condução chegar. Já Thiago de Moura, que levou um exemplar de Arlequim, servidor de dois amos, de Carlo Goldoni, estava se perguntando se havia outros pontos de empréstimo. “Gosto de ler e, geralmente, compro livros em sebos.” Boa parte dos que podem ser encontrados no ponto vieram por meio de doação de outro projeto de incentivo à leitura, a Borrachalioteca.

REFERÊNCIA

Também uma iniciativa nascida da vontade de partilhar conhecimento, foi criada por Marcos Túlio Damascena há 11 anos, na borracharia do pai, em Sabará. Despretensioso, o projeto da Borrachalioteca virou referência. Hoje, Marcos Túlio, formado em letras, dedica-se exclusivamente a ele, já que além da sede (com acervo de 10 mil volumes), conta com outras três bibliotecas, uma inclusive no presídio de Sabará, que leva o nome de Libertação pela leitura. “Sobrevivemos aos trancos e barrancos e a maior parte vem de doação”, diz ele, que na sede empresta em média 320 livros por mês. “Os campeões são os infantis, como Diário de um banana e os livros do Ziraldo.”

Projetos de incentivo à leitura, de uma maneira geral, são movidos por doações. Em Contagem, o Trilhas da leitura, que distribui livros em praças, tornou-se parceiro do Borrachalioteca. “Colocamos nas ruas uma vez por mês de 4 mil a 8 mil livros. Tem de tudo o que você puder imaginar: didático, literário, até apostila de concurso público. Falam que brasileiro não lê. Não é isso, o livro é que é muito caro: R$ 30, R$ 40, R$ 50. As pessoas ficam encantadas de poder levar livro de graça e nossa ideia é fazer o livro circular, não deixá-lo parado”, afirma Ricardo Carvalho, um dos três voluntários que atua no projeto, que já teve 20 edições. Trabalhando somente com apoio, ele sente dificuldade para o recolhimento de livros. “É uma luta para buscar, tanto que temos utilizado a viatura da polícia para pegar as doações.”

Com 10 anos de atuação, o Livro de graça na praça doou, em sua edição de 2013, 25 mil livros novos. Nascida em Belo Horizonte, a iniciativa prevê a seleção de obras inéditas para sua posterior edição, publicação e distribuição. Desde 2003, já distribuiu 200 mil exemplares de 23 obras. E ganhou versões em outras cidades. Neste ano, vai ocorrer, além de BH, no Recife e em Montes Claros.

PARA CRIANÇAS

Cada projeto, por sinal, tem sua própria maneira de atuação. Iniciativa de Estella Cruzmel – que começou a emprestar livros há quatro anos, com uma pequena banca em sua loja de roupas no Bairro Ipiranga –, o Santa leitura, na Praça Duque de Caixas, em Santa Tereza, no primeiro e terceiro domingos de cada mês é voltado para a leitura somente no local. “Cresci sem livros numa fazenda. Tenho 63 anos e antigamente não havia tanto acesso. Quando comecei a trabalhar com livro, vi que tinha necessidade de levá-los para os outros”, afirma Estella, que ampliou o projeto para outros espaços da cidade. Na Praça Salvador Morici, no Bairro Floresta, deixa diariamente 10 volumes para quem quiser pegar emprestado. E já a comunidade Sagrada Família, no Taquaril, desenvolve projeto de leitura somente para crianças.

Os livros ficam guardados num pequeno espaço que Estella alugou na praça, em Santa Tereza. “Vem tudo do meu bolso, estou procurando apoio, pois o pessoal exige alguns livros da gente. As doações que recebo são até legais, mas tem muita gente que doa livro só para limpar a casa. E quando preciso de bons livros, tenho que comprá-los”. Estella pensa em entrar com o projeto na Lei Municipal de Incentivo à Cultura.

Outra iniciativa, SeuMeuNosso, de troca de livros, está em busca de patrocínio (conseguiu aprovação para captação via Lei Rouanet) para começar com suas edições este ano. Nascido em abril, o projeto é destinado à troca. “Tem gente que troca a mesma quantidade de livros que levou, tem gente que deixa alguns a mais”, afirma Maristela Rodrigues. O SeuMeuNosso foi realizado aos longo de 2013 nas praças JK, no Sion, e República do Líbano, na Barragem Santa Lúcia. “São locais que têm realidades socioeconômicas distintas”, continua ela, que firmou parcerias com projetos nas duas regiões (Querubins, da Vila Acaba Mundo; Casa do Beco e Muquifo, ambos no Aglomerado Santa Lúcia).

Principais projetos

» Borrachalioteca: empréstimo de livros
Praça Paulo de Souza Lima, 22, Sabará, (31) 3674-4170.
Contato: borrachalioteca.blogspot.com.br.

» Livro de graça na praça: distribuição de livros
Além de BH, haverá este ano edições em Montes Claros e no Recife.
Contato: www.lgpbrasil.com.

» Ponto do livro: empréstimo de livros
Ponto de ônibus em frente ao CCBB, na Praça da Liberdade.
Contato: Facebook: Ponto do Livro BH.

» Santa leitura: empréstimo de livros
A próxima edição será neste domingo, na Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza
Contato: Facebook: Leitura na Praça.

» SeuMeuNosso: troca de livros
Ainda sem edição marcada, procura patrocínio.
Contato: Facebook: Projeto SeuMeuNosso.

» Trilhas da leitura: distribuição de livros
A próxima edição será em 8 de março, na Praça Íria Diniz, Eldorado
Contato: www.trilhasdaleitura.com.br.


A menina que roubava livros



Livros roubados

Para escapar dos horrores da guerra, uma garota se refugia nos livros. Esse é o mote do best-seller A menina que roubava livros (foto), do escritor australiano Markus Zusak, cuja adaptação chega hoje aos cinemas brasileiros. Dirigido por Brian Percival (que assinou vários episódios da série Downton Abbey), o filme, que concorre ao Oscar de trilha sonora, traz como narradora a Morte, que, a distância, acompanha quatro anos na vida de Liesel Meminger (interpretada pela canadense Sophie Nélisse). Filha de comunista perseguida pelo nazismo, a menina é enviada, junto com o irmão, a um subúrbio de Munique para viver com um casal que se dispõe a adotá-los por dinheiro. Liesel aprende a ler nessa nova casa e aprende também a dividir os livros com os vizinhos, entre eles um judeu que vive na clandestinidade. Aproveitando o lançamento do filme, a Intrínseca – que já vendeu 2 milhões de exemplares do livro no país – está lançando nova edição com a imagem do filme.

Nenhum comentário: