terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Posse de Olegário Alfredo - Mestre Gaio na Academia de Letras de Teófilo Otoni

Olegário Alfredo - Mestre Gaio tomou posse na Academia de Letras de Teófilo Otoni.

Algumas fotos:




Ata da viagem, por Mércia Figueiredo

10 de dezembro 2010, encontro no Terminal JK para a partida prevista para 24 h.

Destino: Teófilo Otoni

Motivo: assistir a posse do Gaio na Academia de Letras de Teófilo Otoni.

Veículo: Sprinter

Motorista: “Seu” Antônio

Passageiros: Gaio, Regina, Fausto, Carlinhos, Tel, Márcia, Rinca, Antonio Augusto, Alexandre (irmão da Regina), Alexandre, Túlio, Aguida e esta que vos relata.

Assim começou a odisséia: Márcia, com fome, resolveu procurar algo em pleno terminal JK depois de 23 h. Não adiantou gastar seu inglês que hoje está misturado a nossa língua pátria: desistiu do pedido após tanta demora, mas... surpresa: Antonio Augusto apareceu com bornal de asinha de frango assada polvilhada de provolone, para deleite da moçada. Naturalmente as asinhas foram regadas a Skol, teve até uma cachacinha do JP de Sabará. Talvez por esse motivo, as asinhas, ao longo do caminho, foram promovidas a coxas...

Viagem sem grandes fatos dignos de menção, exceto o pânico que ameaçou se instalar em Regina e Mércia, a cada curva que “Seu” Antônio fazia, nessas alturas chamado de Tio Toninho.

Parada no Graal de João Monlevade, outra em Valadares.

Chegamos em Teófilo Otoni por volta de 07 h. Juntos, misturados e exaustos fomos para a Pousada do SESC, e lá soubemos que um dos quartos ainda não estava disponível.

Aí sim: foi uma misturada de malas e bolsas pelos quartos, café com direito a banana da terra cozida, alguns se renderam ao cansaço e foram dormir, Túlio e Aguida foram rever lembranças e amigos em Itambacuri e outros partiram para o reconhecimento da terra.

Fomos na casa da Conceição e apanhamos a Miloca, um encanto de criatura que tomou meu coração prá sempre.

Voltas pela cidade em busca de descarregar a máquina digital da Márcia (que na volta pra casa ela nos fez saber que já tinha colocado um cartão de memória que o Antonio Augusto havia lhe emprestado, mas havia se esquecido disso - caminhada em vão)

Procuramos bichos preguiça pelas árvores da praça, mas nenhum apareceu.

Quem apareceu por lá foi um senhor de cabelos e barbas brancas bem compridos. Tel o associou ao Papai Noel e Miloca não se fez de rogada: pediu a ele o presente de Natal (uma boneca bem pequenininha) A atitude do senhor me emocionou, pois ele se posicionou como o bom velhinho e fez nossa amiga vibrar de alegria, e ficou a comentar: “ele trocou de roupa...”

Após, fomos na casinha do Papai Noel instalada na mesma praça; o bom velhinho, dessa vez a caráter, estava lá recebendo seus convidados, distribuindo balas e prometeu o presente à nossa amiga, que saiu de lá radiante,voltando a dizer: “ele trocou de roupa...”

Hora de molhar a palavra (obrigada, Márcia) Fomos ao mercado. Encomenda de carne de sol prá levar, e início dos “trabalhos”. Calor, cerveja gelada, filet acebolado, carne de sol com mandioca, fígado com jiló, cachaça, cerveja, e ao final, almoço.

Por lá a turma toda se reuniu, incluindo os irmãos do Antonio Augusto, que, diga-se de passagem, são simpatissíssimos. Um deles quase babou ao ver a Márcia, e referiu-se a alguns anos passados como os melhores da vida dele. Eita!

Miloca teve alguns momentos de ciúme da “Marcinha”, mas logo se encantou e se rendeu a presença do Gaio, que com certeza é um grande afeto do coração dela.

A Miloca é uma criatura que conquista nossas almas, e deixa uma saudade incontida em nossos corações. Que Deus a guarde e nos dê oportunidades de reencontro com ela.

Voltamos à pousada em busca de uma soneca indispensável prá darmos conta da night.

Túlio e Aguida não quiseram nem saber – foram pra piscina.

Márcia não deixou a mulherada do quarto dormir o tempo previsto para tal. Numa agitação só, procurava café, quem buscasse na casa da Conceição a camisa do Gaio para a posse (foi para lá ser passada), e andou fotografando nós outras em trajes menores.

Começamos a nos arrumar para a posse Foi um desfile daqueles. Tel arrasou num modelito Pink e prata, Márcia ficou um escândalo de branco (segundo ela não era branca aquela roupa) com um sapato maravilhoso de salto altíssimo preto e branco (nós somos do Clube Atlético Mineiro...) Aguida com um vestido colorido muito bonito, Regina num modelo de arrasar e eu esnobando minha saia israelense, compradas às margens do Tiberíades... Nosso quarto era uma invasão chiquérrima de cheiros que passeavam entre Calvin Klein e Carolina Herrera... Eita!

Apanhamos táxis até o local da posse, na Câmara Municipal da cidade, que sedia a Academia de Letras. Lá percebemos que a bolsa que o Gaio levou, lotada pelos seus livros, ficara no porta mala do táxi que o conduzia.

Total frenesi, e Alexandre saiu no outro táxi a procura do primeiro, que ficara com o tesouro literário.

Daí a minutos, Alexandre e o taxista era saudados por nós, quando chegaram com a famosa bolsa, resgatada com heroísmo! Eita!.

Entrada no recinto para o esperado evento: Uma turma foi para o elevador -chiquérrimo, recém inaugurado, but... excesso de lotação e o tal não saiu do lugar e manteve nossos companheiros presos nele por alguns minutos que pareceram eternidade...

Tudo resolvido, e o início da cerimônia.

Nosso amigo brilhou e nos honrou muito com seu discurso de posse, que teve uma única incerteza: usar ou não os óculos para leitura. Preferiu a segunda opção, embora tivesse preparado o texto com fonte maior.

Eu jamais saberia transcrever 1/10 das palavras dele. O que posso registrar aqui é que, já empossado e envergando sua pelerine, ele iniciou com “O amor vence tudo”, agradeceu a Deus, no mesmo preito de gratidão homenageou Dona Tereza e Sr. Augusto, Regina e os filhos, falou da terra natal com carinho e do patrono da cadeira 18 com mestria. Fato curioso da vida de Rubem Somerlate Tomich é que ele gostava de pratos exóticos,a exemplo disso, salada de pétalas de rosas.

Ao final, Regina, que estava bem perto dele, pois fora convidada a integrar o plenário no lugar de destaque, correu ao microfone e declarou, cheia de graça e emoção, que nosso imortal também gostava de colocar pétalas sobre a macarronada... O que eles nunca imaginavam, é que um dia a Academia de Teófilo Otoni colocaria o nome de nosso amigo em sua história, na cadeira de alguém que tinha o mesmo paladar apurado pela sensiblidade de poeta...

Outras posses, outros discursos onde se ouviu de tudo:

“é preciso dizimar a cultura...”

“ fulano não veio porque teve um transtorno bipolar”

“quando a miséria acabar eu não farei mais poesias”

Ao final, abraços, congratulações,um singelo coquetel (sem álcool) e o fato pitoresco:

Fausto, que assumiu a mesa com os livros do pai, atendeu um senhor bem posto, bem vestido, que queria um exemplar de cada livro do nosso querido autor, ao que nosso “vendedor” gentilmente perguntou:

“Como o senhor quer recebê-los? Pelo correio?”

O senhor, um tanto sem entender, só pôde rir e passar prá frente o ocorrido.Era o Antonio Augusto. Com bela fatiota e sem o velho chapéu não foi reconhecido...

Reunidos na rua para os ajustes finais da night, observamos com emoção que, a rua de subida íngreme que no passado levava à casa onde Gaio morava – Morro do Cruzeiro

é a mesma rua onde ele tomou posse como imortal da Academia de Letras da cidade.

Para mim que não acredito em acaso, sempre me alegro ao perceber que a vida responde. A terra devolve sempre a colheita ao seu semeador. É lei.

Seguimos para uma Pizzaria. Lá estava bem cheio, mas nossa mesa gentilmente reservada e preparada por um dos irmãos do Antonio Augusto.

E então... surpresa...

Tinha uma turma comemorando 30 anos de formatura em Direto, e a cada momento um deles se posicionava e fazia um discurso, tudo naturalmente filmado e aplaudido.

Meu Deus, se fôssemos pagar couvert artístico por cada um que foi ao “palco”, teríamos ficado mais pobres.

Márcia aplaudia cada um dos discursantes... Eita Papagaio de Pirata! (obrigada, Túlio)

Alguns pediram pizza, outros foram para a praça comer sanduíche. Eu fui pra turma do sanduíche com Regina, Tel e Aguida.

Um pouco mais tarde a turma se reuniu, e aí ficamos sabendo que a pizza tinha um “quê” de exótico: figos e ameixa, que diga-se de passagem, foi confundida com azeitona preta pelo Alexandre...

Márcia voltou da pizzaria sem os sapatos, pés no chão. Tentou me convencer que os havia vendido por uns tantos dólares...

De volta pra Pousada, sem muita delonga fomos dormir. Apagada geral, Domingofui a primeira a acordar no quarto das mulheres, às 8:30! Regina já estava de porta em porta acordando a todos para o café e partida de volta.

Fotos, muitas fotos. Márcia a campeã delas, seguida de Túlio. Alexandre, irmão da Regina, ficou prá trás nesse quesito porque a máquina dele ficou prá trás em algum lugar, presume-se que no mercado. Revelações matinais na porta do SESC: reencontros dos companheiros da Terra com velhas afeições, etc etc etc

Odisséia da volta:

É claro que o Alexandre, irmão da Regina ,trouxe o leitão que alguém encomedou a ele.

Veio comportadíssimo na Van.

A viagem iniciou com umas palavras bonitas e pertinentes do Antonio Augusto, seguidas de uma prece; poesias declamadas pelo Gaio, outras lidas pela Regina e Túlio.

Casos, lembranças da viagem a Cuba, e... eis que uma criatura flatulenta se instalou entre nós. Meu Deus! Tememos até pela segurança, pois “Tio Toninho” poderia se desconcentrar na direção...que catinga...

Agora eu me pergunto: teria sido o leitão?

Muito riso, muita história, piadas de diversos níveis e a parada pro almoço em Naque.Cervejinha, uma boa comida e dessa vez a surpresinha foi para esta que vos escreve :

Logo após almoçar, fui cheia de saudáveis intenções para o banheiro (não posso deixar de registrar: o desenho convencional de “elas” e “eles” vem com os bonequinhos com pernas cruzadas “segurando” as partes) resolvi, antes de escovar os dentes dar a entrada final no reservado prá não passar aperto na viagem, e quando saí da “casinha” em busca da pequena nécessaire com meus apetrechos dentários (eita) dei de cara com um sujeito na outra “casinha” fazendo xixi.

Saí correndo apavorada, pensei que tinha entrado no banheiro dos homens. Segundo os companheiros de viagem, eu estava até vermelha. Foi um susto e tanto.

Seguimos em prosa, verso, risos e revesamento de cadeiras na Van, porque o povo de perna grande sofre nessas ocasiões.

Chegamos no Terminal JK por volta de 17 h, e seguimos cada qual pro seu rumo. Rinca gentilmente trouxe Márcia e eu no nosso velho e bom bairro.

Fica o gosto de quero mais.

A alegria do reencontro com quem não víamos há muito tempo, recheado de boas surpresas. Surpresa de observar o amigo mais crescido, com mais firmeza diante da vida.

A alegria do encontro de novos amigos, com quem temos certeza, já são novos parceiros para nossos projetos de vida.

Fica o orgulho (de mãe) pela trajetória do amigo Gaio, que tem colocado seu nome em páginas bonitas da vida.

Não me canso de dizer: o Gaio foi e é uma grande referência em minha vida.

Há muitos anos, quando nos reuníamos para as farras regadas a vinho barato (eita)

em algumas ele não comparecia - éramos então informados que ele estava estudando a obra ora de Cecília Meireles, ora de Drummond...

No Natal de 1977 ele me presenteou com um lindo cartão pintado a nanquim.

Nele ele desenhou aqueles bonequinhos convencionais de palito, mas um deles com a perninha formando o 4.

E escreveu um pequeno trecho de Cecília Meireles que tomou meu coração, a ponto de hoje, 33 anos depois, eu o recordá-lo por tê-lo guardado no cofre das minhas melhores emoções:

“Sede assim, qualquer coisa: serena, isenta, fiel. Não como o resto dos homens.”

Amigo Gaio, obrigada pelo conselho carinhoso daquele tempo. Eu ainda era muito menina e não o alcançava em plenitude. Caminhei por estradas floridas e por outras esquisitas; muitas vezes chorei e fiz chorar, embora nunca tivesse desejo do mal em minha alma, mas às vezes, nós nos desgovernamos por ignorância, fraqueza, carência... Hoje já compreendo melhor as coisas, e daqui a outros 33 anos, quando certamente estaremos em outras comemorações, talvez eu possa dizer que em 2010 eu ainda não sabia como ser serena, isenta, fiel, diferente das convenções humanas cheias de patologias que infeccionam a alma...

Mas algo eu já sei que é profilático: queira o bem, faça o bem e o bem se fará.

Sua trajetória me pontuou isso, e este é o grande estímulo que um amigo recebe para se tornar melhor.

Obrigada por sua postura ética, por sua simplicidade e despretensão.


Obrigada por levar a cultura onde o povo está.

Obrigada pelas viagens que você me com concede através dos livros, amigos e estradas que deixarão saudades pra sempre.

Peço licença ao Paulinho Nogueira pra trocar as notas do violão pela prosa e verso, na tentativa de demonstrar-lhe algo do meu coração nessa hora:

“Quanta saudade antiga
Quanta recordação
O toque paciente
De tua mão amiga
Me ensinando os caminhos
Corrigindo os defeitos
Dando todos os jeitos
Pras notas brotarem
Do meu violão

Ah, como eu me lembro ainda
Cheio de gratidão
A hora entardecente
A nostalgia infinda
No modesto ambiente
Da casinha da praça
E eu em estado de graça
De estar aprendendo a tocar violão

E hoje nós dois
Tempos depois
Damos com nova emoção
Um novo aperto de mão
Neste chorinho chorado juntos
E que, tomara, renasça em muitos

Pois a maior alegria
É chorar de parceria
Num chorinho que é só coração
E relembrar que o passado
Vive num choro chorado
Pelo teu e o meu violão”

(Choro Chorado pra Paulinho Nogueira, Vinicius/Toquinho/Paulinho Nogueira)

Um grande abraço a todos,

Mércia Figueiredo







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