quarta-feira, 13 de outubro de 2010

DISCUSSÃO GASTRONÔMICA





OLEGÁRIO ALFREDO (MG) X COSTA LEITE (PB)

Olegário diz:
- Só como prato mineiro.
Costa Leite diz:
- O meu prato é nordestino.

Neste cordel vamos ver
Quem vai entrar pelo cano,
Olegário Alfredo é mineiro
Poeta bom, veterano
E José Costa Leite,
Poeta paraibano.

Olegário improvisando
Dentro dum legal esquema
Foi logo propondo o tema
E Costa Leite escutando
O assunto foi lhe agradando
Paraibano é certeiro
Tem assunto o dia inteiro
Quando se fala em comida
Olegário na partida:
Só como prato mineiro.


C.L.
- No Nordeste brasileiro
O povo come de tudo
Que às vezes fica pançudo
E o corpo meio banzeiro
No churrasco é o primeiro
Seja de gado bovino
Ou mesmo gado suíno
Mesmo na hora da ceia
Pra ficar de pança cheia
O meu prato é nordestino.


O A.
- Em Minas Gerais eu sapeco
Noite e dia na comilança
Como muito na festança
Carne de vaca e marreco
Se acha em qualquer boteco
O leite vem do leiteiro
A couve vem do terreiro
Domingo como patê
Por isso digo a você,
Só como prato mineiro.

C.L.
- No Nordeste o camarada
Na hora da refeição
Come filé de camarão
Emboca na “batucada”
E dentro da feijoada
Se bota os pés de um suíno
É comida de granfino
Na opinião do povo
No café cuscuz com ovo
O meu prato é nordestino.

O A.
- Sou igual uma pilastra
Aqui nas Minas Gerais
As coisas são naturais
Temos o queijo canastra
O chuchu na rama alastra
Nosso feijão é o tropeiro
O mexidão é de carreiro
Sobre a mesa é pão-de-queijo
Com doce chamado beijo
Só como prato mineiro.


C.L.
- Se o mineiro come bem
Churrasco e carne-de-sol
Mas aqui, se for “farol”
Carne de sol também tem
Na hora que a fome vem
A negrada entoa o hino
Pede um comer genuíno
Feijão preto e mocotó
Pra mim é do bom só-só
O meu prato é nordestino.

O. A.
- Depois da hora da missa
Angu com fubá de munho
Se come no mês de junho
Pão-de-queijo com lingüiça
O apetite logo atiça
Nosso prato derradeiro
Não será nunca o primeiro
A pinga no corpo abriga
Se o torresmo é de barriga
Só como prato mineiro.


C.L.
-E depois o ponche vem
De seriguela ou pitanga
De graviola ou manga
Que é gostoso também
Aqui não sofre ninguém
Só se for cabra mofino
Porque do gado bovino
Temos bife toda hora
Eu digo a quem vem de fora:
- O meu prato é nordestino.


O. A
- minha fome eu acabo
Ali perto do fogão
Farofa de cansanção
Com um frango no quiabo
Se come feito diabo
Vai varando o dia inteiro
Numa sombra do terreiro
Chupando jaboticaba
Até que à tarde se acaba
Só como prato mineiro.

C. L.
Sabemos que o boi fornece
Fígado, tripa e mocotó
Pra se comer numa mó
Daqui ninguém esquece
A turma que já conhece
De um comer super fino
O toucinho de suíno
Tem o sabor do nordeste
Comer de cabra da peste
O meu prato é nordestino.

O A.
-Em Minas Gerais digo a ter
Dentro da gastronomia
Paraíba não sabia
Que brotinho de bambu
Misturado no tutu
Não custa muito dinheiro
É gostoso por inteiro
Se vier lombinho assado
Eu degusto sossegado
Só como prato mineiro.



C.L.
- E os produtos do mar
Que invadem a região
Ostra, siri, camarão
Do povo da beira-mar
Mas a turma do lugar
Seguindo a voz do destino
Com as ordens do Divino
Fornece peixe pra gente
Comer em todo ambiente
O meu prato é nordestino.

O A.
- Mineiro é bom camarada
Cada qual é um pode-pode
Um na buchada de bode
O outro na couve rasgada
Com farinha e galinhada
Enche a pança o dia inteiro
Cada qual no seu poleiro
Pra viver muito mais
Aqui nas Minas Gerais
Só como prato mineiro.

C.L
- Nos peixes temos toninha
Garajuba ou corvina
Salmonete, abacatina
Temos cioba e tainha
A pescada ou pescadinha
É a chã do gado tourino
Fornece prato divino
Quem tem sabor de manjar
O nordeste é meu lugar
O meu prato é nordestino.


O.A
- Mineiro é bom de serviço
É por que ele come bem
Comer bem vai mais além
Costa Leite sabe disso
Manda descer um chouriço
Com pinga lá do barreiro
Lambicada no terreiro
A vida é um arrebol
Nada de colesterol
Só como prato mineiro.

C.L
- Café com leite bem cedo
E suco com perfeição
De laranja ou de limão
A gente toma sem medo
Seu conforto é um segredo
O povo diz, eu combino
O mocotó de um bovino
Dentro da fava ou feijão
Na hora da refeição
O meu prato é nordestino.

O A.
- A turma toda pipoca
Quando o dia é de peixada
Na mesa da mineirada
Tem o cascudo de loca
Cozido com mandioca
Com licor de pequizeiro
Que é pra puxar banzeiro
E invejar cabra da peste
Que vive lá no nordeste
Só como prato mineiro.


C.L.
- Carne de bode e torrada
Pra se comer com cerveja
Qualquer pessoa deseja
Uma cerveja gelada
Do bode faz-se a buchada
E na hora que toca o sino
É meio dia, eu combino
Sai buchada com feijão
E sai pitu com limão
O meu prato é nordestino.

O A.
- Nossa prosa ficou boa
Mineiro com paraibano
Cada qual é veterano
E a musa lhe abençoa
Deus lhe manda uma garoa
Paraíba é verdadeiro
Mineiro é bom companheiro
Manda fritar o jiló
Com pirão de mocotó
Só como prato mineiro.

C.L
- A gente come de tudo
Banana com leite e queijo
E se come caranguejo
Ou raspado ou cabeludo
Às vezes eu me ajudo
Com costelas de suínos
Num churrasco genuíno
Depois suco de acerola
Ou mesmo de graviola
O meu prato é nordestino.


O A.
- O mineiro na tabela
No frevo da fervedura
Chupando fruta madura
Carne-de-sol na panela
Galinha de cabidela
E por ser hospitaleiro
Diz para seu companheiro,
- Tá na hora de jantar
Um petisco a beliscar
Só como prato mineiro.

C.L.
- Comer pra um ou pra dois
Logo cedo é preparado
É cuscuz com bode assado
Se come cedo e depois
Feijão preto com arroz
Desde o tempo de menino
É comer genuíno
Com pé de porco e com bucho
De boi, comida de luxo
O meu prato é nordestino.

Houve empate em poesia
Ali naquele ambiente,
Se abraçaram os poetas
Olegário disse contente:
- A discussão ficou linda
O povo quer ouvir ainda
Outro debate da gente.

Outubro de 2003
In: http://artistasencena.blogspot.com/

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